"Estamos exorcizando um lugar onde reinava a morte e a tortura com a música", contou, em entrevista à AFP, o pianista argentino de renome internacional Miguel Angel Estrella.
Sequestrado em 1977 no Uruguai, torturado e libertado em 1980 graças à grande mobilização internacional, ele se disse revigorado em observar a "felicidade" dos jovens de entre 18 e 25 anos, a quem ele acaba de dar uma aula numa das salas da tristemente célebre Escola de Mecânica da Armada (Esma).
"Tocamos jazz, rock, música latino-americana", conta o pianista, explicando que a escola já conta uma centena de alunos de origem muito humilde. "É um curso de três anos totalmente gratuito, que garante a eles uma boa formação".
Este homem, embaixador de boa vontade da Unesco e criador da fundação Música-Esperança, é também engajado politicamente.
É um admirador, na França, da socialista Martine Aubry, a quem conheceu em Lille (norte), durante seu exílio e, na Argentina, da presidente Cristina Kirchner.
Miguel Angel Estrella se disse assombrado ainda hoje por esse lugar de sofrimento. "Quando voltei do exílio, visitei todas as prisões e comunidades onde militei nos anos 70 antes de ser sequestrado", contou.
No novo trabalho, teve o apoio de Mariano Berroeta, 35 anos, que se tornou responsável pela escola de música e é filho de um desaparecido político, torturado na Esma, Enrique Berroeta.
Sala de torturas |
"A música pode dar sentido a um lugar onde reinava o horror", disse à AFP Mariano Berroeta. Ele tinha apenas um ano quando seu pai foi preso, em 1977, e levado à Escola de Mecânica da Armada.
Cerca de 20 jovens acompanham, com ele, um curso de Introdução à Música Popular, na antiga capela. Uma placa lembra que, durante a ditadura, os responsáveis pela ermida eram padres "envolvidos no terrorismo de Estado".
"Meu pai foi visto pela última vez, na Esma", disse Mariano Berroeta. Estamos aqui a cem metros das salas de tortura pelas quais passaram cerca de 5.000 pessoas - apenas umas cem conseguiram sair vivas.
Os desaparecidos chamavam as salas de tortura de "Capucha" (capuz) e "Capuchita" porque eram sempre encapuzados, mesmo quando torturados. De tempos em tempos, ouviam-se gritos: uma prisioneira estava em trabalho de parto.
Parentes de desaparecidos |
Na maioria das vezes, o bebê era entregue a um militar ou a uma pessoa próxima, enquanto que a mãe era, pouco tempo depois, atirada ao mar, nua e viva, de um avião militar em pleno voo.
A seu lado, o guitarrista Martin Pellizeri, 36 anos, membro do grupo "Budabardop Orquestra" conta que está encantado com a ideia de associar "música e direitos Humanos". "É comovente, disse ele, ver como a música pode encher de vida um lugar que nos traz tantas lembranças más".
Vinde , pois agora , e matemo-lo , e lancemo-lo numa destas covas , e diremos : Uma fera o comeu ; e veremos que será dos seus sonhos. GÊNESIS 37/20
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