Um mapa de um outro Brasil, somente desbravado ao
longo da escuridão da madrugada. As intermináveis filas de visita se
repetem nas unidades penais de todo o país. Obrigam uma multidão a usar a
criatividade e a solidariedade para que, em algum momento, possam
encontrar os parentes presos com um mínimo de dignidade. No Complexo
Penitenciário da Papuda, em Brasília, mulheres agarram-se pelas cinturas
para que outras não “furem” a fila. No Presídio de Trânsito, em Mato
Grosso do Sul, um comerciante do entorno da unidade se propõe a
organizar, por contra própria, os nomes dos visitantes a partir da ordem
de chegada. No Cadeião de Pinheiros II, em São Paulo, as pessoas levam
barracas de camping para terem onde se abrigar do frio ao longo da
madrugada.
As informações fazem parte da tese de
doutorado do professor, pesquisador e advogado João Tavares da Costa
Neto, que está concluindo o trabalho A família e a ressocialização da
pessoa encarcerada, pela Universidad Del Museo Social Argentino (UMSA).
Sem conseguir financiamento de empresas privadas para seu estudo por
conta do estigma que carrega a família do reeducando, João Tavares
decidiu custear a pesquisa de campo, que ainda não terminou. Seus
próximos destinos são Maranhão, Amazonas, Pará, Roraima, Rondônia e
Buenos Aires. No mapa que começou a desenhar em julho de 2012, João
Tavares passou por sete estados, incluindo Pernambuco, onde também
visitou o Centro de Observação Criminológica e Triagem Professor
Everardo Luna (Cotel). A pesquisa resultará, ainda, em um livro de
fotografias.
Com mais de 20 anos de experiência junto a
unidades penais pernambucanas, João Tavares ficou impressionado com as
cenas que viu em várias regiões do país. Em Brasília, a neblina impede
que as pessoas enxerguem a si próprias no descampado do entorno do
Complexo Penitenciário da Papuda. O frio adoece as pessoas. Em Mato
Grosso, João Tavares teve náuseas ao ver a situação dos banheiros
destinados às visitas dos presos da Penitenciária do Estado. Quebrados,
imundos e sem água, são a única alternativa para os familiares que não
têm mais como conter as necessidades fisiológicas. Em Mato Grosso do
Sul, o pesquisador testemunhou mulheres serem mandadas de volta para
casa depois de esperarem 12 horas para entrar no presídio, porque o
expediente foi encerrado abruptamente por um funcionário que ria,
parecendo zombar das expectativas alheias.
Ao longo da viagem, os bons exemplos são
raros, como o Presídio Antônio Dutra Ladeira, em Minas Gerais. Naquela
unidade, as visitas são informatizadas e marcadas no Núcleo da Família,
que fica no centro de Belo Horizonte. A iniciativa pôs fim à
prostituição e à fila na frente do presídio. Na Casa de Custódia de
Curitiba, no Paraná, as visitas são agendadas por telefone e acontecem
nas sextas, sábados e domingos. “As famílias entram de acordo com o
pavilhão e por turno. Além disso, os encontros acontecem em um pátio e
as crianças somente visitam os familiares no segundo domingo do mês.
Nesse dia fica acertado que não há visita íntima”.
LEMBRAI-VOS DOS PRESOS ........ HEBREUS 13/3
LEMBRAI-VOS DOS PRESOS ........ HEBREUS 13/3
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