"Quando li, fiquei perplexa.
Ildeu é meu avô.
Falar sobre a ditadura e suas implicações na vida da minha familia nunca foi fácil. As burocracias com indenizações e outras coisas juridicas, junto com reportagens que anulam a existencia de ditadura no Paraná, e de notícias que mostram que os torturadores estão soltos, apenas abre a ferida que nunca se fechou. Há anos vejo meu pai e meus tios, se emocionarem com filmes, músicas, documentários que dizem respeito a essa época. Não era fácil para uma criança ver as exepressões de uma dor tão cronica sem entender porque. Hoje eu entendo essa dor, hoje essa dor faz parte de mim. Como diz no livro, meu avô ficou tres anos preso no Ahú, e meu pai, ainda pequeno, era o correio entre ele e o partidão. Meu pai conta das tardes que ia jogar bola no presidio, ou quando a policia revirava a casa assustando sua mãe,minha avó.. ou de mudarem de cidade inumeras vezes fugindo da polícia... meu tio, também Ildeu, escutou os gritos de meu avô na sala de tortura. São machucados que não se cicatrizarão apenas com justiça. A ditadura no Paraná existiu, e o assunto não deve ser evitado como vem sendo a anos!
Hoje, deparamos com outras repreensões, com outras caixas e outras dores. É horrível estar sufocado, ter forças mas estar acorrentado.
Em nome de toda família, elogio e a gradeço a iniciativa!
E aviso - eu, minha mãe, meu pai, e meu tio estaremos para a estréia.
Será um momento histórico, depois de tantos anos, meu tio e meu pai voltarem no lugar onde estiveram com frequencia quando pequenos, dessa vez para tomar uma dose de lágrima de fenix.
Mais uma coisa, Curitiba é mesmo um ovo. Julio Manso, meu pai, deu aula no colégio Integral, para o ator Martin Esteche ."
Fotos originais dos presos políticos na Penitenciária do Ahú
Crédito: Narciso Pires | Acervo: Grupo Tortura Nunca Mais
Duas primeiras imagens: Interior da Penitenciária do Ahú. Sentados - Ildeu Manso Vieira, Narciso Pires e Diogo Afonso Gimenes. Em pé - Osiris Boscardin Pinto, Mario Siqueira, Antonio Brito Lopes.
Release II
A poucos dias da estreia, depoimento emociona elenco de “Memórias Torturadas – A Ditadura e o Cárcere no Paraná”
Neta do personagem central da trama se emociona com o roteiro do espetáculo que será encenado no presídio do Ahú, no Festival de Curitiba
“Quando li fiquei perplexa. Ildeu é meu avô”. Essas foram as palavras que iniciaram um e-mail recebido pela produção do espetáculo “Memórias Torturadas – A Ditadura e o Cárcere no Paraná”, enviado por Catarina Rielli Vieira, neta do personagem central da trama, Ildeu, a poucos dias da estreia.
No texto, ela conta que falar sob re a ditadura e suas principais implicações na vida da família nunca foi fácil. “As burocracias com indenizações e outras coisas jurídicas, junto com reportagens que anulam a existência de ditadura no Paraná, e de notícias que mostram que os torturados estão soltos, apenas abre a ferida que nunca se fechou. Há anos vejo meu pai e meus tios se emocionarem com filmes, músicas, documentários que dizem respeito a essa época. Não era fácil para uma criança ver as expressões de uma dor tão crônica sem entender porque. Hoje eu entendo essa dor, hoje essa dor faz parte de mim”, ressalta.
A peça, além de convidar o público pra uma imersão nas antigas dependências do Presídio do Ahú, traz à tona informações curiosas sobre a ditadura militar no Paraná. “A ditadura no Paraná existiu e o assunto não deve ser evitado como vem sendo há anos, ressalta Catarina, que garantiu presença na estréia do espetáculo: “E aviso: eu, minha mãe, meu pai e meu tio estaremos na estreia. Será um momento histórico, depois de tantos anos, meu tio e meu pai voltarem ao mesmo lugar onde estiveram com frequência quando pequenos, dessa vez para tomar uma dose de lágrima de fênix”, finaliza.
Trama:
A peça conta a história de um homem e seu filho menor de idade que repentinamente são presos no Ahú e passam a conviver com torturas corporais e psicológicas.
Junto na minúscula cela, estão três outros personagens, ideólogos, que desenrolam conversas acaloradas, e muitas vezes fraternais, revelando informações sobre a luta pela democratização do país que deu início na década de 80 com as "Diretas Já". Estes diálogos trazem informações pouco conhecidas, como a secreta passagem de Che Guevara por Curitiba ou o maior esquema de guerrilha que se armava, no oeste paranaense.
Os fatos históricos são revelados e intercalam-se com as histórias pessoais e a angústia do cárcere humano. “É necessário compreender o valor da luta e do sangue vertido daqueles que deram suas vidas para que hoje tenhamos essa democracia. Entender o processo de democratização vai além de questões partidárias ou ideológicas, é saber sobre nossa identidade brasileira", aponta Hajar.
Ele reforça que a peça é dedicada àqueles que foram presos e/ou perderam a vida pela luta no afã de um estado democrático de direito.
O ineditismo do espetáculo está no tema sobre a ditadura militar no Paraná e o cenário. A montagem vem em boa hora, pois o Tribunal de Justiça irá transformar o local em Centro Judiciário a partir deste ano.
Fonte:www.memoriastorturadas.com
Fonte:www.memoriastorturadas.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário