sábado, 13 de outubro de 2012

PRESAS SE SENTEM LIVRES TRABALHANDO

Realização chega através do trabalho para mulheres presas em Pernambuco

Das 1.530 presas no Estado, 15% trabalham hoje numa das quatro fábricas existentes na Colônia Penal Femini


Reprodução / TV Globo
O fato de estarem atrás das grades não impede o trabalho de algumas detentas da Colônia Penal Feminina do Recife. Contratadas para fabricar embalagens e lençóis, entre outros itens, em troca elas conseguem a redução da pena, recebem salário e aprendem uma profissão.

Há oito anos, empresas descobriram nessa estratégia uma forma prática e barata de aproveitar a mão de obra carcerária e ainda contribuir com a ressocialização das presas. “A questão da disciplina, do horário, da rigidez de um trabalho, do dia a dia, há todas as regras de uma empresa normal. Elas têm que cumprir horário de refeição, de saída, de chegada, fardamento, bom comportamento...”, enumera o supervisor de laborterapia Augusto Sales .

A Colônia Penal, no bairro do Engenho do Meio, é uma das três unidades destinadas a mulheres criminosas em Pernambuco. Das 663 detentas, 140 já trabalham em uma das quatro fábricas que existem dentro do complexo prisional. Só na fábrica de lençóis, cinco mil peças são produzidas todo mês. Para Priscila Teixeira dos Santos (foto 4), trabalhar ajuda a passar o tempo e dá a sensação de liberdade, perdida há quase dois anos, desde que foi presa. “É um alívio quando que eu saio da cela e venho para cá, é como se eu tivesse na rua, eu sinto que eu estou solta, não presa. Eu esqueço um pouco da cadeia porque isso aqui é uma empresa, então dá para relaxar um pouco, ficar mais tranqüila”, conta a presidiária.

A produção na Colônia Penal lembra realmente a de uma empresa. Cada detenta tem que cumprir o seu papel fundamental. Rafaela Nascimento Gomes  começou na linha de frente da fábrica de embalagens para festas e, um ano e meio depois, chegou ao segundo posto mais importante da unidade. Hoje, ajuda a coordenar mais de 30a pessoas que, juntas, fazem quase setecentas mil embalagens por mês. “Você chega fazendo uma coisa e se surpreende, porque depois está fazendo de tudo um pouco, mil e uma coisas, mil e uma utilidades. Hoje eu me sinto uma mulher feliz, realizada, por estar aqui, me sinto uma profissional”, comemora.

O trabalho dentro da cadeia não é apenas um exercício diário de ressocialização. Essas mulheres, que recebem 75% de um salário mínimo e têm um dia da pena reduzido a cada três trabalhados, querem esquecer o passado e sonhar com um futuro melhor. E é justamente o futuro que Laurícia Gonçalves Alves  já está garantindo para a filha de 19 anos. Com os R$ 405 que recebe por mês pelo trabalho na fábrica de lençóis, ela ajuda a pagar a faculdade da filha, que vem visitá-la de vez em quando. “Me sinto feliz, mesmo estando presa porque, por outro lado, estou ajudando minha filha. Estou dando um exemplo a ela, não é porque eu errei que tenho que continuar no erro. Estou me esforçando ao máximo, fazendo o impossível para que ela me perdoe. Eu estou fazendo de tudo para que ela não fique desamparada”, explica.

Além da fábrica de lençóis e de embalagens para festa, os presídios do Estado também contam com fábricas de componentes para portas e de preservativos. Ao todo, 15% das 1.530 presas trabalham hoje num dessas fábricas. A ação é da Secretaria Executiva de Ressocialização de Pernambuco, em parceria com empresas públicas e particulares.
“É um sentimento grande de orgulho, de trabalho concluído. Vemos que essas mulheres estão participando de um projeto de ressocialização, voltando a uma vida produtiva; muitas delas que nem tinham essa produção estão aprendendo a ter uma profissão aqui dentro da unidade prisional”, comemora o supervisor Augusto Sales.

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