A ideia surgiu depois que o idealizador do projeto, o juiz Luis Henrique Mallmannapós, constatou a vontade de alguns presos de se redimir de forma mais efetiva de seus crimes. “Percebi que essa poderia ser uma bela forma de o preso pedir perdão à vítima”, diz o juiz da Vara de Santa Rita do Sapucaí.
Os empresários toparam o projeto-piloto por seis meses, pagando aos detentos por uma jornada diária de oito horas, de segunda a sexta-feira. Mais tarde, o projeto tomou corpo, após o juiz articular, com o diretor-geral do presídio da cidade, Gilson Rafael Silva, critérios para selecionar os primeiros detentos. "A ação prioriza presos que cometeram furtos, já que assim é possível realizar a restituição financeira da vítima", explica o diretor. Um deles, no entanto, é preso por tráfico. Neste caso, metade do seu salário é repassada à Fazenda Esperança, que oferece tratamento a dependentes químicos.
Até que seja repassada às partes, em audiências de pagamento no início de cada mês, a quantia fica depositada em uma conta do Conselho da Comunidade. Nesses encontros, o juiz tem sugerido a presos e vítimas que se encontrem, com a entrega do dinheiro sendo feita pelo algoz ao ressarcido. “É um processo lento, de participação da justiça restaurativa. Nós temos que lembrar que, um dia, esse preso vai sair e que a cidade é pequena. Se eles se perdoarem, é meio caminho andado para a busca pela paz”, afirma.
Ninguém ainda aceitou a proposta nas três primeiras audiências, mas já há vítimas que cogitam a possibilidade, diz o juiz Mallmann. “Em um primeiro momento, até os presos ficaram assustados com a possibilidade, mas agora entendem o motivo. Eles entendem as razões das vítimas, têm uma atitude de respeito.”
Por ora, não houve problemas de disciplina e de evasão no projeto, diz o magistrado. Ele tem visto a experiência como positiva e acha que ela vai persistir. “Reduz um pouco a tensão dos presos. Alguns estão aprendendo uma profissão nova. Às vezes, o sujeito só sabe roubar. É preciso dar opção.”
Perspectivas
Para o juiz Mallmann, o Judiciário ainda não percebeu os instrumentos disponíveis para estimular a interação entre o criminoso e a comunidade e incentivá-lo a procurar um emprego. “Os juízes determinam uma série de punições quando o preso erra, como transferir, proibir visitas. Acho que é justo criar mecanismos que o premie quando acerta. Todo mundo precisa de motivação. A regalia, por exemplo, é um instituto pouquíssimo usado no Código Penal. O juiz pode incentivar o trabalho e concedê-la”, afirma.
Para ele, se o exemplo se ampliar e porventura virar tema de projeto de lei, deve permanecer a condição de que o preso deve aderir ao projeto, não havendo obrigatoriedade. “Tornar obrigatório é um expediente muito temerário. A reinserção é mais efetiva quando o condenado tem a opção de aderir.”
Lucas 19 : 8-9-10
E, levantando-se Zaqueu, disse ao Senhor: Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado.
E disse-lhe Jesus: Hoje veio a salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão.
Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido.
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