“Quando saí da prisão, se você fosse um empregador potencial olhando meu currículo, alguns fatos saltariam à vista: nunca trabalhou honestamente, nunca pagou impostos, sem educação superior, sem profissão, sem habilidade para a retidão, sem carteira de motorista.” A declaração de Louis Ferrante, autor do livro O Poderoso Chefão Corporativo (Saraiva, 2012), é o discurso que muitas empresas usam na hora de argumentar o porquê de não contratar mão de obra carcerária ou de ex-presidiários.
Mas o ex-mafioso e especialista em roubo, que já acertou suas contas com a Justiça, vai além. “Agora, estas são as credenciais que não aparecem no meu currículo: honrado, ambicioso, despachado, homem de palavra, persistente, nunca comete o mesmo erro duas vezes, os amigos lhes confiam a vida, e ele já provou merecer esta confiança.”
Determinado a não voltar para a cadeia, o escritor saiu disposto a mudar de vida. Hoje dá palestras pelos Estados Unidos a adolescentes em situação de risco e outros grupos. Wagner Luiz Gomes dos Santos, 41 anos, não é personagem do livro, mas comprova a teoria de Ferrante. Condenado a um ano e quatro meses por roubo, fez do limão uma limonada e agarrou como pôde as oportunidades que se apresentaram quando conseguiu a liberdade.
Santos aproveitou o tempo que esteve detido, no Espírito Santo, para concluir os estudos. Entrou com a 6ª série do Ensino Fundamental e saiu, em 2010, com o Ensino Médio concluído. Também participou de cursos profissionalizantes para ampliar as chances de competir por uma vaga. Atualmente, é jardineiro do Fórum de Guarapari, no estado capixaba. A meta, agora, é partir para a universidade e realizar o sonho de se tornar engenheiro mecânico, algo que só será possível graças à possibilidade que teve de recomeçar. “É preciso realmente mostrar aos empregadores a vontade de mudar de vida”, garante Santos. “Entrei lá de carne e saí de ferro.”
A lista de apenados e ex-presidiários à espera de uma recolocação é grande, e exemplos como o de Santos motivam a luta dessas pessoas no mercado de trabalho. A população carcerária no Brasil é de aproximadamente 580 mil presos, de acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). “O principal entrave é o preconceito, e isso não se vence da noite para o dia”, reconhece Luciano Losekann, juiz auxiliar da presidência do CNJ e coordenador do Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário. “Por mais correta que tenha sido a conduta do preso durante a execução da pena, o fato de ter cometido algum delito é algo praticamente imperdoável para a sociedade. Isso gera grandes dificuldades para essas pessoas conseguirem trabalho”, completa.
Para enfrentar os entraves que impedem as contratações, o CNJ criou o programa Começar de Novo, que mostra as vantagens de ter mão de obra carcerária e de ex-detentos dentro das empresas. “O auxílio ao preso reverte no combate à violência, pois, ao oferecer uma oportunidade, aumentam as chances de a pessoa não voltar a reincidir”, destaca o juiz. Além de colaborar com a redução da criminalidade, quem contrata trabalhadores que cumprem pena nos regimes semi-aberto e fechado tem incentivos legais. As vantagens econômicas são compensadoras, pois o trabalho não está sujeito à Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). “Isso desonera o empresário de maneira bem interessante e torna o trabalho prisional atrativo”, argumenta Losekann.
A alma farta pisa o favo de mel, mas para a alma faminta todo amargo é doce.
Provérbios 27:7
A alma farta pisa o favo de mel, mas para a alma faminta todo amargo é doce.
Provérbios 27:7
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